Para a terceira edição do Camel Trophy, muitos países já tinham demonstrado o seu interesse em participar. Foi o ano da sua verdadeira internacionalização, com a participação da Holanda, Alemanha, Itália e Estados Unidos da América, tendo cada país duas equipas de dois elementos.
Desta vez, seriam levados para Papua Nova Guiné, localizada a Norte da Austrália, na metade Oriental da ilha da Nova Guiné. Com uma população de 3,5 milhões de habitantes, organizados em cerca de 700 tribos diferentes e distribuídos por 462 mil km2, apresentava a localização ideal para um Camel Trophy: vasto, baixa densidade populacional, remoto, exótico, desafiante e duro.
Para aproveitar a participação de equipas internacionais e o aumento do número de elementos, foi decidido introduzir uma maior competitividade ao evento. Foram, assim, criadas as “Tarefas Especiais” (“Special Tasks”, no original), embora ainda bastante limitadas.
Depois da excelente prestação dos Range Rover V8 a gasolina, no evento anterior, foi decidido voltar a utilizar os mesmos modelos, sendo formada uma parceria oficial com a Land Rover, para fornecimento de veículos para as seguintes edições.
As oito equipas percorreram uma perigosa rota ao longo dos trilhos coloniais, desde o acampamento mineiro de Mount Hagen até Madang, na costa Oeste. As equipas foram testadas dia e noite pelas condições extremas do clima e do terreno. O seu progresso foi sendo sempre impedido pelo desaparecimento de caminhos, causado pelos deslizamentos de lama, raivosos rápidos, difíceis cruzamentos de margem e cheias localizadas. Muitas noites foram passadas a construir pontes e a reparar estradas, durante esta exigente expedição.
Ao longo do seu percurso, a caravana do Camel Trophy teve a oportunidade de se cruzar com as diversas tribos locais. Algumas delas mantinham condições de vida semelhantes às dos povos do período Neolítico, o que permitia que fossem considerados autênticos “primitivos actuais”.
Uma característica comum a todas estas tribos era o facto de manterem um contacto escasso com etnias diferentes. De um modo geral, ignoravam o uso dos metais e o vestuário dos homens reduzia-se a uma funda peniana. Em contraste, possuíam uma elevada intuição e uma amabilidade espantosa com todos aqueles que os visitavam. Contactar com estas tribos era uma experiência impossível de esquecer e era uma verdadeira viagem à pré-história.
Especialmente impressionante para os participantes do Camel Trophy, foi a convivência com os habitantes do vale de Asaro, os chamados “Homens Lama”, que, durante a celebração das suas festas, cobrem todo o seu corpo de lama e utilizam máscaras cuidadosamente preparadas, enquanto efectuam danças rituais. Segundo a lenda, a sua tribo tinha sido vencida por uma tribo rival e foram forçados a abandonar a aldeia e ir para o rio Asaro. Esperaram até ao anoitecer antes de tentarem fugir e, quando subiram a margem lamacenta do rio, o inimigo viu-os cobertos de lama e pensou que eram espíritos. Como a maioria das tribos de Papua Nova Guiné receia bastante os espíritos, a tribo inimiga fugiu e os “Homens Lama” recuperaram a aldeia. Eles pretendiam, apenas, ir à aldeia para ver o que se tinha passado, sem saberem que a tribo inimiga ainda se encontrava no local.
Uma curiosidade: na aldeia dos “Homens Lama”, havia uns panfletos redigidos em inglês perfeito, com as seguintes indicações:
simulacro de ataque: 100 kina
simulacro de ataque com fotos: 150 kina
cada 5 minutos adicionais: 10 kina
espera-se que o público compre lembranças para manter o sustento cultural desta tribo
Outras curiosidades, que se destacaram, nesta edição:
Perto de Mendi, um Papuano bêbado, vestido com fato e gravata, quase chocava com o veículo que seguia na frente da fila de viaturas Camel Trophy. O carro do Papuano saíu da estrada e ele tentou enfrentar os dois Alemães que seguiam na frente;
Certa noite, num bar, um abastado habitante local ofereceu 50 mil marcos por cada Range Rover. Obviamente, não foram vendidos;ao passarem pela colónia alemã no meio da Nova Guiné, ouviram pelo rádio que a estrada estava bloqueada por guerreiros. Foi decidido seguir por outro caminho. Mais tarde, também pelo rádio, ouviram que os ditos guerreiros pensavam que a caravana Camel Trophy era de caçadores de monstros e que queriam caçar o monstro que vivia no lago Kopiano, com torpedos. Os “torpedos” eram as botijas de gás propano, que a caravana usava para cozinhar;
No lago Kopiano foi onde viram as aves do Paraíso. Também viram escaravelhos do tamanho de bolas de ténis. Nesta zona, que era o foco principal de malária do país, era necessário dormir com redes mosquiteiras.
Os vencedores da primeira edição internacional do Camel Trophy foram os Italianos Cesare Geraudo e Giuliano Giongo, que mostraram estar melhor preparados para superar as provas de orientação nocturna, modalidade da competição que desempenhou um papel decisivo na atribuição do troféu. Nesta edição ainda não era atribuído um prémio independente para as “Special Tasks”.
Resumo da edição
Veículos dos participantes: Range Rover V8 a gasolina (3 portas)
Veículos de apoio: Range Rover V8 a gasolina (3 portas)
Distância percorrida: 1050km em estrada
Equipas: Alemanha 1 - Werner Weiglein / Peter Reinhold
Alemanha 2 - Franz Murr / Wolfgang Eggers
Holanda 1 - Hans Bronsgeest / Ernest van Arendonk
Holanda 2 - Willem de Bruyn / Hans Prudon
Itália 1 - Cesare Geraudo / Giuliaro Giongol (vencedores)
Itália 2 - Giorgio Landi / Lorenzo Loreti
E.U.A. 1 - Rob Comstock / Paul Haven
E.U.A. 2 - Bob Peters / Ken Arnold
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Texto e imagens: Camel Trophy Portugal