A Evolução do Range Rover
A terceira série do Range Rover foi concebida quando a Land Rover pertencia à BMW, mas foi a Ford quem teve a honra de a apresentar, sob a gestão de Bob Dover.
Wolfgang Reitzle deixou a BMW para se juntar à Ford Motor Company em Abril de 1999, tornando-se presidente do Ford Premier Automotive Group (PAG). A sua influência foi importantíssima na aquisição da Land Rover à BMW por parte da Ford em Julho de 2000. Com a aquisição, a Land Rover juntou-se à Jaguar, Aston Martin, Volvo e Lincoln como parte do PAG. Segundo Dr.Reitzle "a Land Rover é o construtor mais proeminente de veículos 4x4 do mundo, e o Range Rover é o SUV de luxo original. O novo Range Rover é verdadeiramente extraordinário. A sua única combinação de luxo e capacidades fora-de-estrada evidencia que os seus rivais mais próximos não são outros 4x4, mas sim as berlinas de luxo.
A nova série do Range Rover foi lançada oficialmente numa grande cerimónia, onde estam presentes cerca de 200 convidados cuidadosamente escolhidos, no Museu de Design de Londres. Na cerimónia, entre outros, estiveram presentes Bob Dover,o director de design da Land Rover, Geoff Upex e o Dr. Wolfgang Reitzle.
A produção em massa teve início a 3 de Dezembro de 2001, em Solihull, nas instalações da Land Rover onde foram investidos 200 milhões de libras.
A data de venda original foi definida para 15 de Fevereiro de 2002, e veio-se a revelar bastante optimista, tendo sido adiada para 15 de Março. As unidades sairiam com garantia total de 3 anos, sem limite de quilometragem.
Mas o lançamento foi apenas a ponta do iceberg de um projecto (denominado L322). No início, o chefe de design da Land Rover, Geof Upex e o designer Don Wyatt receberam instruções da BMW, de que deveriam começar o projecto numa folha em branco, em vez de basear o novo modelo no Range Rover P38A.
Logo no início, tanto Upex como Wyatt contactaram uma variedade de designers, solicitando-lhes propostas acerca do aspecto que deveria ter o novo Range Rover. Fizeram o mesmo com o departamento de design da Land Rover, BMW e a DRA (Design Research Associates. O sketch abaixo, de autoria de Phil Simmons, foi inspirado, não só no Range Rover original, mas também nos famosos Riva Speedboats (flancos e proporções):
Abaixo, dois estudos que foram entregues à Land Rover. O da esquerda, da DRA era uma proposta bastante inovadora e desportiva, mas como não estava dentro do que era pretendido para o novo modelo, foi posta de parte. Na direita, foi projectada uma versão com uma frente radical. Alguns elementos deste estudo terão sido aproveitados, nomeadamente os flancos e os arcos das rodas.
O projecto mais popular dos 12 que foram submetidos à direcção da Land Rover foi o de Phil Simmons. Este criou um modelo à escala 1:30 em barro, do seu conceito daquilo que seria o novo Range Rover, com base no sketch mostrado acima. Este estudo pode ser considerado como o primeiro passe que levou ao modelo final:
Finalmente, em Agosto de 1997, foram apresentados 4 modelos em tamanho real. Os dois da esquerda foram produzidos pela BMW, com a supervisão de Chris Bangle e os dois da direita, produzidos pela Land Rover. Foi a versão de Phil Simmon (segunda a contar da direita) que gerou maior consenso e comentários favoráveis de Wolfgang Reitzle. Sem supresas, a versão de Phil Simmon também era a preferida da direcção da Land Rover, mas o design não foi aprovado imediatamente, pois Wolfgang Reitzle achou que a competição deveria durar mais algum tempo. Uma das versões alemãs continou na corrida, ao lado da proposta britânica - na altura, Reitzle não achou que o design inglês estivesse exactamente onde queria.
Na fase final da competição, a Land Rover e a BMW trabalharam juntas revendo o design de Pat Simmon e chegaram à versão mostrada no sketch abaixo:
Em Deembro de 1997 Reitzle aprova a seguinte versão para produção:
Os testes começaram no ano seguinte, num programa que incluía 25 países desde a América do Norte e Sul, Médio Oriente, África e Australásia.
O veículo foi testado em condições extremas, desde a pista de Nürburgring até à hora de ponta em Tóquio. Um dos testes passou por rebocar uma caravana de 3,5 toneladas durante 9000 milhas, a alta velocidade no norte da Grécia (O Range Rover aguentou este teste com facilidade, a caravana quase tinha de ser reconstruída diáriamente).
Em Inglaterra, e aproveitando as características da meteorologia inglesa, os testes foram um pouco mais sujos. O castelo de Eastnor viu os Range Rover a serem conduzidos durante 250 milhas seguidas de lama pegajosa. A impermeabilidade do veículo foi testada em Blair Athol na Escócia e numa mina abandonada no sul de Inglaterra
Exterior:
Tal como nas versões anteriores, a Land Rover esforçou-se por manter as qualidades do Range Rover, que lhe deram tanta fam no passado. O novo modelo manteve a prática abertura em duas partes da porta traseira, a frente imponente com uma grelha simples, uma excelente posição de condução e os vincos no capot, entre outras características. Apesar de ser um veículo bastante mais suave em toda a linha, era claramente um Range Rover.
Na frente, o arranjo dos faróis Bi-Xenon (redondos, inseridos num conjunto rectangular) torna-o facilmente reconhecível como um descendente da linhagem Range Rover. Na traseira, os faróis são em LED e existem sensores de estacionamento embutidos no pára-choques traseiro.
A juntar a isto, o Range Rover oferecia também um sistema de monitorização da pressão dos pneus que alertava o condutor, no caso de diferenças apreciáveis.
Motorizações:
Tal como os seus antecessores, esta nova versão do Range Rover apresentou-se com motores a gasolina e diesel. Ambas as unidades ofereciam melhor performance, emissões mais baixas, mais economia de combustível e um nível de refinamento superior aos seus antecessores. Apesar da origem BMW, os motores foram modificados para a sua utilização específica, no Range Rover. Em ambas as motorizações, e entre outras modificações, a admissão de ar foi foi reposicionada para melhorar a capacidade de atravessar zonas com água, os vedantes do motor foram melhorados, as polies foram adaptadas. O sistema de circulação de óleo e de ventilação foi completamente alterado para permitir o funcionamento do motor com o carro em inclinações verticais de 45º ou laterais de 35º.
Ambos os motores possuem dois mapeamentos diferentes, que se adaptam ao tipo de condução. Em estrada, o motor responde mais rapidamente às solicitações do condutor, enquando que em condução fora-de-estrada, a resposta é um pouco mais lenta, para evitar acelerações rápidas em terrenos difíceis.
A versão a gasolina surgia apenas com uma motorização possível (4.4 litros) com 282cv. Esta unidade estava de acordo (ou excedia) com as normas de emissões EU3 da União Europeia e da Norte-Americana LEV.
Da mesma forma que a versão a gasolina, apenas estava disponível uma versão a diesel. Denominada de TDV6 devido aos seus seis cilindros, este motor era um turbo-diesel common-rail de 3 litros. Comparado com o motor 2.5 utilizado na versão anterior, este era consideravelmente mais potente e possuía um binário superior. Com a utilização de um sistema de recirculação de gases (EGR), este motor cumpria as normas de emissão EU3 emitindo 299g/Kkm de CO2.
Transmissão:
Como não podia deixar de ser, o Range Rover só estava disponível com tracção às 4 rodas permanente, com uma caixa de velocidades automática de 5 velocidades em ambas as motorizações. As versões a gasolina utilizavam caixas do fabricante alemão ZF enquanto as versões a diesel usavam caixas com origem GM. Através do sistema Steptronic, era possível utilizar as caixas de velocidades em modo manual.
Tal como nos seus antecessores, era possível escolher entre dois regimes de velocidades; altas para a condução normal do dia-a-dia e baixas para as incursões fora de estrada.
Um sensor de binário controla a transferência de potência entre os dois eixos, dependendo da tracção disponível.
Suspensão:
Este novo modelo melhora o sistema de suspensão electrónico introduzido na versão anterior. A EAS (Electronic Air Suspension) foi refinada e passou a oferecer válvulas interligadas para as quatro rodas, permitindo disponibilizar uma suspensão mais dura para a utilização em estrada e um modo mais confortável, para a utilização fora-de-estrada.
Em estrada, as válvulas estão fechadas e cada roda trabalha independentemente da outra. Como a suspensão fica mais dura, o adornar da carroçaria diminui consideravelmente. A EAS utiliza software para determinar em que tipo de terreno é que o veículo circula. Se detectar que está a ser utilizado numa condução fora de estrada, desbloqueia as válvulas e funciona de acordo com a informação recebida dos sensores que existem em cada roda.
A electrónica deste sistema permite baixar e elevar a suspensão ao toque de um botão. O sistema também nivela o carro de acordo com a carga.
(continua)
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Tradução livre de:
"You & Your Range Rover - Buying, enjoying, maintaining, modifying", de David Polard.
http://aronline.co.uk/
Fotos: http://aronline.co.uk/